sábado, 28 de abril de 2012

GRAMÁTICA EGÍPCIA

Este artigo é de autoria de Carlos Moreira, e o escriba Valdemir Mota de Menezes leu e aprendeu mais um pouco sobre os hieróglifos egípcios

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Noções do Sistema de Escrita
e Gramática Egípcia

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Como estavam organizados os sinais hieroglíficos ?

A escrita hieroglífica continha três categorias de sinais:

Fonogramas - representam sons, e correspondiam a uma, duas, ou três consoantes. Constituem a base de toda a gramática egípcia. Existem três classes de fonogramas.

Monoconsonantais - com uma única consoante. Ver alfabeto.

Biconsonantais - com duas consoantes. Eis alguns exemplos:
pr
pr gb gb ir ir mn mn

Triconsonantais - com três consoantes. Exemplos:
anx
anx xprxpr HAtHAt rwD rwD

Ideogramas - sinais sem valor fonético, que correspondem a uma ideia completa. Muitas vezes a palavra a que correspondem define literalmente um determinado objecto ou ser animado, sendo neste caso chamados de logogramas, escrevendo-se seguidos de um traço adjunto. Por exemplo:

solra sol, dia coração ib coração casa pr casa

Determinativos - são uma extensão não-fonética dos ideogramas, sendo colocados no final de cada palavra hieroglífica. Esclarecem a categoria a que pertence a palavra que lhes é imediatamente precedente. São exemplos:

pessoa, nome de pessoa comer, pensar, beber, falar
casa, edifício deserto, montanha, terra estrangeira

Como se pode verificar, vários sinais são simultaneamente logogramas e fonogramas. Consequentemente, a escrita hieroglífica era uma combinação destes três tipos de sinais.

Quanto à orientação da escrita, esta efectuava-se na horizontal ou na vertical, e os hieróglifos podiam-se ler a partir da esquerda ou da direita, mas nunca de baixo para cima.

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Existiu um alfabeto ?

Um alfabeto é um conjunto de sinais seguindo uma ordem específica, que representam os sons unitários - fonemas - na escrita da língua usada por um povo em uma determinada época.
Não se pode dizer que os egípcios usavam o alfabeto na sua escrita, pois combinavam vários tipos de hieróglifos entre si, e apesar de muitos deles serem fonéticos, eram frequentes os hieróglifos que correspondiam a mais do que uma consoante. No entanto, para efeitos práticos podemos isolar alguns hieróglifos que correspondem a fonemas isolados, formando assim uma espécie de alfabeto. Esta percepção virtual de um alfabeto facilita obviamente a criação de listas de palavras no estudo da antiga língua egípcia.

Um pouco de gramática egípcia...

Seria impensável ensinar aqui a gramática egípcia, tal é o seu tamanho e complexidade, principalmente no sistema verbal. No entanto, é possível ilustrar através de simples exemplos as relações entre os vários elementos de uma oração básica. A imagem abaixo é um desses exemplos, e representa uma construção verbal simples, usando a regra VSO (Verbo-Sujeito-Objecto). Uma imagem vale por muitas palavras, e a seguinte imagem demonstra de forma simples alguns alguns pontos essenciais da gramática do Egípcio Médio, a fase clássica da língua egípcia.

Exemplo de frase seguindo a regra VSO
A mulher local ouve o crocodilo infeliz

Palavra

iw

sDm

st

niwtyt

msH

mAir

Transliteração

iw

sDm

st

niwtyt

msH

mAir

1

2

3

4

5

6

1 - partícula de introdução iw
2 - verbo triconsonantal
sDm 'ouvir'
3 - substantivo feminino
st 'mulher'
4 - adjectivo feminino
niwtyt 'local'
5 - substantivo masculino
msH 'crocodilo'
6 - adjectivo masculino
mAir 'infeliz'

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Que eram os cartuchos ? E os serekhs ?


O cartucho seguia a orientação geral da escrita hieroglífica, e os seguintes exemplos demonstram-no com o prenomen do faraó Tutmosis III.

Exemplo de cartucho na horizontal utilizando o prenomen do faraó Tutmosis III

Figura 1a - Cartucho horizontal

Exemplo de cartucho na vertical utilizando o prenomen do faraó Tutmosis III

Figura 1b - Cartucho vertical

Os primeiros faraós não escreviam o seu nome num cartucho, mas antes no serekh (srx), uma estrutura rectangular encimada pelo deus-falcão Horus (figura 2). Representava a fachada do palácio real, dentro da qual se inscrevia o Nome-de-Horus do faraó. Este título real era uma combinação do nome de trono do faraó com vários epítetos que o relacionavam com o deus-falcão Horus ou outros deuses.

serekh do rei Tutmosis I da 18.ª dinastiaEstela do rei Djet da 1.ª dinastia (Museu do Louvre, Paris)

Figura 2 - Ilustração de um serekh do rei Tutmosis I da 18.ª dinastia e fotografia
de uma estela com o serekh do rei Djet da 1.ª dinastia (Museu do Louvre, Paris)

Conhecem-se serekhs de reis de dinastias posteriores ao Período Pré-Dinástico, mas deixaram de ser frequentes durante o Império Antigo, e a preferência passou a ser o uso do cartucho em todas as inscrições monumentais e oficiais.

Pode consultar aqui vários nomes reais de faraós com os seus cartuchos e serekhs.