Este artigo é de autoria de Carlos Moreira, e o escriba Valdemir Mota de Menezes leu e aprendeu mais um pouco sobre os hieróglifos egípcios
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Noções do Sistema de Escrita
e Gramática Egípcia
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Como estavam organizados os sinais hieroglíficos ?
A escrita hieroglífica continha três categorias de sinais:
Fonogramas - representam sons, e correspondiam a uma, duas, ou três consoantes. Constituem a base de toda a gramática egípcia. Existem três classes de fonogramas.
Monoconsonantais - com uma única consoante. Ver alfabeto.
Biconsonantais - com duas consoantes. Eis alguns exemplos:
pr gb ir mn
Triconsonantais - com três consoantes. Exemplos:
anx xpr HAt rwD
Ideogramas - sinais sem valor fonético, que correspondem a uma ideia completa. Muitas vezes a palavra a que correspondem define literalmente um determinado objecto ou ser animado, sendo neste caso chamados de logogramas, escrevendo-se seguidos de um traço adjunto. Por exemplo:
ra sol, dia ib coração pr casa
Determinativos - são uma extensão não-fonética dos ideogramas, sendo colocados no final de cada palavra hieroglífica. Esclarecem a categoria a que pertence a palavra que lhes é imediatamente precedente. São exemplos:
pessoa, nome de pessoa comer, pensar, beber, falar
casa, edifício deserto, montanha, terra estrangeira
Como se pode verificar, vários sinais são simultaneamente logogramas e fonogramas. Consequentemente, a escrita hieroglífica era uma combinação destes três tipos de sinais.
Quanto à orientação da escrita, esta efectuava-se na horizontal ou na vertical, e os hieróglifos podiam-se ler a partir da esquerda ou da direita, mas nunca de baixo para cima.
Existiu um alfabeto ?
Um alfabeto é um conjunto de sinais seguindo uma ordem específica, que representam os sons unitários - fonemas - na escrita da língua usada por um povo em uma determinada época.
Não se pode dizer que os egípcios usavam o alfabeto na sua escrita, pois combinavam vários tipos de hieróglifos entre si, e apesar de muitos deles serem fonéticos, eram frequentes os hieróglifos que correspondiam a mais do que uma consoante. No entanto, para efeitos práticos podemos isolar alguns hieróglifos que correspondem a fonemas isolados, formando assim uma espécie de alfabeto. Esta percepção virtual de um alfabeto facilita obviamente a criação de listas de palavras no estudo da antiga língua egípcia.
Um pouco de gramática egípcia...
Seria impensável ensinar aqui a gramática egípcia, tal é o seu tamanho e complexidade, principalmente no sistema verbal. No entanto, é possível ilustrar através de simples exemplos as relações entre os vários elementos de uma oração básica. A imagem abaixo é um desses exemplos, e representa uma construção verbal simples, usando a regra VSO (Verbo-Sujeito-Objecto). Uma imagem vale por muitas palavras, e a seguinte imagem demonstra de forma simples alguns alguns pontos essenciais da gramática do Egípcio Médio, a fase clássica da língua egípcia.
A mulher local ouve o crocodilo infeliz
Palavra | | | | | | |
Transliteração | iw | sDm | st | niwtyt | msH | mAir |
| 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 |
1 - partícula de introdução iw
2 - verbo triconsonantal sDm 'ouvir'
3 - substantivo feminino st 'mulher'
4 - adjectivo feminino niwtyt 'local'
5 - substantivo masculino msH 'crocodilo'
6 - adjectivo masculino mAir 'infeliz'
Que eram os cartuchos ? E os serekhs ?
O cartucho seguia a orientação geral da escrita hieroglífica, e os seguintes exemplos demonstram-no com o prenomen do faraó Tutmosis III.
Figura 1a - Cartucho horizontal
Figura 1b - Cartucho vertical
Os primeiros faraós não escreviam o seu nome num cartucho, mas antes no serekh (srx), uma estrutura rectangular encimada pelo deus-falcão Horus (figura 2). Representava a fachada do palácio real, dentro da qual se inscrevia o Nome-de-Horus do faraó. Este título real era uma combinação do nome de trono do faraó com vários epítetos que o relacionavam com o deus-falcão Horus ou outros deuses.
Figura 2 - Ilustração de um serekh do rei Tutmosis I da 18.ª dinastia e fotografia
de uma estela com o serekh do rei Djet da 1.ª dinastia (Museu do Louvre, Paris)
Conhecem-se serekhs de reis de dinastias posteriores ao Período Pré-Dinástico, mas deixaram de ser frequentes durante o Império Antigo, e a preferência passou a ser o uso do cartucho em todas as inscrições monumentais e oficiais.
Pode consultar aqui vários nomes reais de faraós com os seus cartuchos e serekhs.